A vitória de Donald Trump, na última quarta-feira (04) para um segundo mandato, reacende o debate sobre protecionismo e as implicações para a economia brasileira, especialmente no agronegócio e no setor de crédito. Com o perfil amplamente protecionista, Trump já sinaliza uma intensificação das tarifas sobre produtos importados e apoio ao setor agropecuário dos Estados Unidos, o que reforça a necessidade do Brasil diversificar mercados e investir em competitividade.
“O primeiro mandato de Trump deixou claro seu perfil: ele prioriza o setor agrícola dos EUA, o que pressiona o Brasil a buscar novas parcerias e não depender exclusivamente do mercado norte-americano”, analisa Wolney Arruda, CEO do Banco Plantae.
Esse cenário foi amplamente aproveitado nas sanções impostas à China, permitindo que o Brasil ganhasse terreno no mercado asiático com exportações de commodities como soja e milho. Agora, com o retorno de Trump, essa estratégia pode se repetir e abrir mais oportunidades para o agronegócio brasileiro.
Entretanto, o protecionismo norte-americano impacta não só as exportações, mas também o mercado de crédito. As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, combinadas com a volatilidade do cenário global, podem influenciar diretamente as taxas de juros e o acesso ao financiamento, além de afetar proteções fundamentais, como o seguro agrícola.
Em tempos de mudanças climáticas que tornam o plantio cada vez mais desafiador, essa pressão sobre o crédito aumenta a importância de uma política de financiamento mais sólida e acessível.
No Brasil, o efeito direto dessas pressões já se reflete na política de juros. Na última quarta-feira (4), o Banco Central elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, passando de 10,75% para 11,25% ao ano. Essa foi a segunda alta no ano, após o Comitê de Política Monetária (Copom) já ter aumentado a Selic em 0,25 ponto em setembro. “Essa elevação reflete a necessidade de controlar a inflação e de manter nossa economia estável em meio ao cenário global turbulento”, explica Arruda.
Outro ponto crítico desse cenário é o impacto cambial. A expectativa é de um real desvalorizado frente ao dólar, o que, embora favoreça as exportações, também encarece os custos de produção e de vida no país. “Com o real mais fraco, você consegue exportar mais, mas essa vantagem traz um preço alto para o Brasil em termos de inflação e perda de poder de compra”, avalia o especialista. Além disso, com as tarifas americanas mais elevadas, exportações brasileiras de produtos como carne e café podem enfrentar dificuldades, embora a demanda dos EUA por proteína bovina ainda represente uma oportunidade para o Brasil.
Para enfrentar essas condições, o Brasil precisará de ajustes fiscais rigorosos. “Para 2025, a gente tem que ter, no mínimo, um corte de gastos na ordem de 30 a 40 bilhões de reais”. “Senão, a inflação explode mesmo, os gastos vão lá pra cima e dificilmente a gente vai conseguir segurar.”
O segundo mandato de Trump representa uma combinação de oportunidades e riscos para o Brasil. O país terá que ser ágil em aproveitar as janelas de exportação para a China e em fortalecer suas políticas de crédito e competitividade no agronegócio, ao mesmo tempo que ajusta sua política fiscal para conter a inflação e garantir a estabilidade econômica em meio a um cenário global de protecionismo e volatilidade.