Tomou, papudo, sua valentia era vazia e agora já se acabou. Depois de falar uma bobagem monumental, de arrumar uma encrenca intercontinental e de se fingir de surdo e mudo enquanto seus subordinados tentavam consertar a barbeiragem, o senhor Alexandre Bompard, diretor geral e manda-chuva mundial do grupo Carrefour, abaixou a crista e mandou publicar uma carta pedindo desculpas ao Brasil, à pecuária e aos pecuaristas brasileiros. Conforme já é do conhecimento geral, o sujeito em questão provocou uma grande onda de indignação nestes dias derradeiros, ao anunciar que o gigante varejista francês não venderia mais carne produzida nos países do Mercosul. Mais do que isso, o fulano lá disse que a gente aqui não tem regras confiáveis de controle sanitário, pondo em dúvida a qualidade e a sanidade do nosso produto, de maneira mentirosa e criminosa.
A resposta do governo brasileiro e de toda a cadeia produtiva do setor, incluindo os frigoríficos e as entidades representantes dos fazendeiros, foi um verdadeiro coice muito bem dado na empáfia e na truculência do tal diretor do Carrefour, que deve achar que o mundo ainda tá debaixo do chicote colonial e que quem manda aqui é ele./ o resultado foi que, depois que os fornecedores deixaram sem carne de boi e de frango todas as lojas da rede no Brasil, que aliás só não é maior que a da própria França, o negócio apertou e pretensioso diretor todo poderoso, vendo a viola em cacos, foi obrigado a reconhecer o passo mal dado. Claro que não foi nem por humildade nem por arrependimento, mas sim porque, no ano passado, por exemplo, o faturamento do Carrefour aqui no varejo brasileiro foi de vinte e um bilhões e quatrocentos milhões de reais, e mesmo falando bobagem da nossa carne, eles gostam muito do nosso dinheiro, né.
De qualquer maneira, depois da cartinha de amor fingido, o abastecimento dos supermercados foi retomado, mas ninguém aqui deve ter a ilusão de que o caso foi resolvido. O problema é que, sabendo que os pecuaristas brasileiros são muito, mas muito mais competentes que os franceses, o que essa gente quer, na verdade é evitar a assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, pra continuar mamando nos subsídios do governo e não ter de enfrentar os concorrentes mais eficientes. De acordo com dados levantados pela Acrimat, a Associação dos Criadores de Mato Grosso, no balcão do açougue lá no terreiro deles a carne francesa custa, em média, o equivalente a setenta e nove reais o quilo, enquanto o produto brasileiro sai por pouco mais de vinte e quatro reais. Pois então, sendo esta a questão, nem carece de esticar mais a explicação, né.