Na segunda reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob a gestão de Gabriel Galípolo, realizada nesta quarta-feira (19), o Banco Central anunciou um aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic, que agora chega a 14,25% ao ano. Embora essa decisão já fosse prevista por economistas, especialistas do agronegócio avaliam que a estratégia do governo pode comprometer a produção sem atacar as causas reais da inflação.
“Essas manobras atacam as consequências em vez de corrigir as causas”, critica Wolney Arruda, presidente do Banco Plantae. Segundo ele, a justificativa para a alta da Selic — o aumento da inflação puxado pelos preços dos alimentos e da energia — não resolve a raiz do problema. “Será que encarecer ainda mais o crédito e reduzir o investimento no setor que produz justamente os alimentos que chegam à mesa dos brasileiros é a solução?”, questiona.
Com os juros elevados, o acesso ao crédito se torna mais difícil, especialmente para pequenos e médios produtores que dependem de financiamentos para custear a safra, adquirir maquinário e investir em tecnologia. “Financiar uma safra deveria ser uma prioridade nacional”, afirma Arruda.
Mesmo com a previsão positiva da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de grãos, estimada em 328,3 milhões de toneladas, os custos de produção continuam elevados, reduzindo a rentabilidade dos agricultores.
Além disso, a oscilação do câmbio impacta o setor. O dólar, que recentemente ultrapassou os R$ 6, agora está em R$ 5,64, registrando a sétima queda consecutiva e atingindo o menor valor desde outubro. Essa desvalorização afeta as exportações e a competitividade do agro brasileiro, embora traga algum alívio nos custos de insumos importados, como fertilizantes e defensivos agrícolas.
O cenário fiscal do país também preocupa o mercado. “A falta de previsibilidade gera incertezas para investidores e resulta em uma estratégia já conhecida: apertar os juros para tentar conter a inflação”, afirma Arruda. Para ele, o setor produtivo precisa de medidas concretas que garantam crédito acessível, incentivos para modernização do campo e um plano fiscal mais equilibrado. “O Brasil precisa de disciplina fiscal para evitar um colapso”, conclui.