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O dia em que o agricultor americano tirou férias – a lição do Farm Holiday Movement

porredacao
junho 4, 2025
in Noticias, TOPO
O dia em que o agricultor americano tirou férias – a lição do Farm Holiday Movement

Por: Marcus Rezende – @marcus.rezend

Nos anos 1930, os Estados Unidos estavam em meio ao colapso econômico global da Grande Recessão. A agricultura norte-americana enfrentava uma crise sem precedentes, com preços dos produtos agrícolas despencando, o crédito desaparecendo e milhares de produtores perdendo suas terras para bancos. Foi em meio a esse cenário que surgiu o Farm Holiday Movement, um movimento rural espontâneo e natural que foi sendo abraçado pelos produtores das principais regiões agrícolas americanas, ganhando tamanha força que mudou a maneira como o americano comum enxerga o agronegócio do seu país.

Com epicentro no estado de Iowa, as “férias do campo” surgiu em 1932 e até 1934, já havia se espalhado por todas as regiões agrícolas do Meio-Oeste Americano, com destaque para o Nebraska, Kansas e Dakota do Sul. A proposta era direta: paralisar a produção e a comercialização de alimentos como forma de chamar a atenção para o risco de colapso do agronegócio americano.

Não somente um ato política, mas também uma grande peça de marketing

Com o lema “Stay at home – Buy nothing – Sell nothing” (Fique em casa – Não compre – Não venda), produtores deixaram de plantar, colher ou entregar animais, leite, frutas e grãos. Em casos mais extremos, os protestos incluíram bloqueios de estradas, boicotes a leilões de fazendas e até a destruição de produtos, como o leite, que em muitos pontos foi derramado em valas para chamar a atenção da opinião pública. Fazendeiros sequer trocavam animais entre si e, quando havia algum escambo, era para absoluta subsistência. Mas o movimento não foi somente de não venda, mas também de não compre e não troque, pois entre os agricultores ninguém comprava ou trocava de carro, comprava animais, roupas e insumos; o campo parou.

O movimento organizado por lideranças locais, homens e mulheres simples, mas bem articulados, não teve sindicatos ou partidos políticos envolvidos; era um movimento do agro raiz, que verdadeiramente produzia e colocava a mão na terra e sentia na pele a dor da falta de reconhecimento pelo trabalho de sol a sol para garantir o alimento que todo o país dependia. Foi um grito da classe produtiva que, mesmo alimentando o país, estava sendo empurrada à falência.

A resposta do governo americano

Em 1933, o recém-empossado presidente americano Franklin Delano Roosevelt, o 32º na ordem dos presidentes americanos, determinou a implementação do conhecido New Deal (Novo Acordo), uma agenda doméstica que envolvia uma série de programas de governo para enfrentar a grande depressão dos anos 1930. Para o campo, o mais impactante e conhecido foi o “Triplo A” – Agricultural Adjustment Act (Lei de Ajuste Agrícola), que estabeleceu controle de produção e garantiu subsídios de modo a restringir a produção e promover a escassez controlada para elevar naturalmente os preços dos produtos agrícolas.

O governo americano comprou gado para o abate e subsidiou muitos agricultores para que eles não plantassem em parte de suas terras, reduzindo assim a oferta de alimentos sem comprometer a subsistência dos agricultores. O dinheiro para esses subsídios foi gerado por um imposto exclusivo aplicado sobre as empresas que processavam produtos agrícolas.

Foi o início de uma nova era na política agrícola norte-americana, marcada pela presença mais ativa do Estado no setor rural, algo impensável até aquele momento.

As medidas do governo para atender o Farm Holiday Movement foram algumas das principais conquistas do movimento, mas não a principal e mais duradoura. A temporada de escassez de alimentos e a atenção que o governo americano deu ao movimento fizeram as pessoas comuns voltarem os olhos para o campo e perceberem o sofrimento e angústia de homens e mulheres como eles, mas que produziam o alimento que chegava às suas casas.

Disparou-se então uma segunda onda em consequência do Farm Holiday Movement: a onda de conscientização urbana, que invadiu lares, ruas e mercados, foi consolidada nas escolas e no cinema americano. Fazendo com que cidadãos urbanos, antes alheios ao campo, passassem a perceber como o bem-estar da sociedade estava diretamente ligado ao trabalho diário dos agricultores.

Um grito que ainda ecoa: é o campo que alimenta o mundo

Ainda hoje o Farm Holiday Movement é um poderoso lembrete de como o campo pode se fazer ouvido. Em um mundo cada vez mais urbano, a sociedade tende a esquecer a vulnerabilidade dos sistemas de produção agropecuário e, levado por modas passageiras, chega a hostilizar o homem do campo. Se esquecem que o alimento que chega à nossa mesa vem do trabalho e dedicação de alguém há quilómetros de distância dos nossos lares e não raras vezes, do outro lado do país. Onívoros, carnívoros, vegetarianos e veganos, todos dependemos de o campo produzir para que o nosso alimento, seja ele qual for, chegue à nossa mesa. E não importa se a agricultura é de subsistência ou profissional, o agronegócio é um só.

 

Marcus Rezende – @marcus.rezend

Escreve sobre agronegócio, saúde, produção e bem-estar animal

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