A guerra entre Irã e Israel já começa a causar efeitos no agronegócio brasileiro. O Irã, país do Oriente Médio e um dos maiores fornecedores de ureia para o Brasil — fertilizante essencial na produção de grãos —, enfrenta sanções e interrupções logísticas desde o início dos ataques, o que elevou os preços do insumo no mercado internacional.
Segundo dados do Ministério da Agricultura e da Secretaria de Comércio Exterior, cerca de 20% da ureia usada no Brasil em 2024 foi importada do Irã. Desde os primeiros bombardeios, o valor da tonelada do produto subiu até 9% e já ultrapassa os US$ 430. O aumento está relacionado a ataques em áreas industriais e instalações de gás natural no país persa, matéria-prima fundamental para a fabricação do fertilizante.
Além disso, o petróleo voltou a subir no mercado internacional, o que encarece ainda mais os custos de produção no campo, especialmente o diesel, usado em máquinas agrícolas e no transporte de grãos. O barril do tipo Brent passou de US$ 80 nas últimas semanas.
Outro ponto de preocupação é o milho. O Irã é o terceiro maior comprador do cereal brasileiro, com mais de 4 milhões de toneladas embarcadas em 2024, segundo a Conab. Com o avanço da guerra, exportadores temem dificuldades logísticas, restrições financeiras e atrasos em contratos.
Para reduzir essa dependência de países instáveis, o governo federal lançou em 2022 o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). O objetivo do plano é ampliar a produção nacional e reduzir a vulnerabilidade externa do Brasil, que ainda importa mais de 80% dos fertilizantes que consome. A meta é alcançar maior autossuficiência nos próximos anos, com estímulo à mineração local, investimento em tecnologia e incentivos à indústria de insumos.
A Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) já recomendou atenção aos estoques internos e reforçou a importância de diversificar os países fornecedores. O Ministério da Agricultura acompanha o caso, mas ainda não emitiu nota oficial sobre possíveis medidas emergenciais.
A tensão no Oriente Médio evidencia a importância de acelerar a execução do plano e reacende o debate sobre segurança no abastecimento. Para especialistas, antecipar compras, analisar riscos logísticos e reforçar a gestão de estoques serão estratégias fundamentais para os produtores garantirem estabilidade na próxima safra.