A safra brasileira de laranja 2024/25, encerrada oficialmente em junho, terminou com um contraste marcante: o Brasil registrou o menor volume de suco exportado desde 1997, início da série histórica da Secex, mas gerou a maior receita já contabilizada — US$ 3,48 bilhões, um crescimento de 28,4% em relação à temporada anterior.
De acordo com análise do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), essa “turbulenta safra se encerra em um contexto de incerteza quanto à recuperação plena do consumo externo de suco”. Parte dos agentes de mercado consultados expressa preocupação com a possibilidade de que a demanda internacional siga enfraquecida, tanto pela estagnação no consumo global quanto pelos efeitos de novas tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Até o momento, os impactos da tarifa adicional de 10% já aplicada pelos norte-americanos foram mitigados pela oferta restrita do Brasil, o que ajudou a manter os preços em alta e sustentou as receitas da exportação. No entanto, o setor segue apreensivo diante da possível elevação dessa tarifa para até 50%. “Permanece incerta a magnitude dos efeitos de um possível aumento tarifário para patamares de até 50% sobre o suco de laranja”, alerta o Cepea, sobretudo diante da expectativa de crescimento da produção nas próximas temporadas.
Atualmente, o Brasil é o principal fornecedor mundial de suco de laranja. O país responde por cerca de 34% da produção global da fruta, 60% da produção de suco no mundo e 75% das exportações internacionais do produto. Grande parte desse protagonismo está concentrada no estado de São Paulo, que lidera a produção mundial de laranja.
Nas últimas décadas, o Brasil superou a Flórida, que nos anos 1980 chegou a produzir quase 10 milhões de toneladas por safra. Hoje, esse volume caiu drasticamente — gira em torno de 500 mil toneladas, o que reduziu o peso dos Estados Unidos como concorrente e reforçou o papel brasileiro no abastecimento global. Estima-se que metade de todo o suco de laranja consumido pelos norte-americanos atualmente tenha origem em frutas brasileiras.
Diante desse cenário, o desempenho da safra 2024/25 garantiu ao setor uma importante liquidez. “O acúmulo de divisas oriundas das exportações na temporada 2024/25 foi extremamente favorável, permitindo ao setor uma capitalização importante frente aos desafios futuros”, conclui o Cepea.