Contribuição: Assessoria
As exportações brasileiras de alimentos industrializados somaram US$ 6,1 bilhões em setembro, alta de 3,4% em relação a agosto e de 1% sobre o mesmo mês de 2024, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA). O desempenho positivo reflete a força de novos mercados importadores, que ajudaram a equilibrar a retração nas vendas para os Estados Unidos.
O mês, porém, também consolidou o impacto do tarifaço de 50% imposto pelo governo norte-americano, que provocou queda de 14% nas exportações ao país em relação a agosto e de 34,5% frente a setembro de 2024. Com embarques de US$ 285,1 milhões, a participação dos EUA caiu para 4,6% do total exportado, ante 5,7% em agosto e 7,5% em julho. Mesmo assim, os Estados Unidos seguem como o segundo maior destino dos alimentos industrializados brasileiros.
Segundo o presidente executivo da ABIA, João Dornellas, o resultado mostra que o setor tem conseguido reagir de forma estruturada.
“Mercados alternativos ganharam relevância e podem indicar uma recomposição geográfica das exportações brasileiras. Mesmo diante de um cenário internacional desafiador, marcado por volatilidade cambial e pela efetivação da tarifa norte-americana, o setor mantém desempenho consistente e diversificado”, afirma.
México, Índia e Filipinas ganham protagonismo
O México se destacou pelo segundo mês consecutivo, com US$ 217,7 milhões em embarques, o que representa 3,5% do total exportado e um salto de 94,4% em relação a setembro de 2024. O avanço foi impulsionado sobretudo pelas proteínas animais (+102,6%) e por preparações alimentícias diversas.
As Filipinas e a Índia também ampliaram significativamente suas importações, com altas de 71,3% (US$ 216,7 milhões) e 62,9% (US$ 168 milhões), respectivamente. Entre os mercados árabes, Arábia Saudita (US$ 233 milhões, +31%) e Emirados Árabes Unidos (US$ 229,4 milhões, +5,5%) reforçaram o ritmo de compras.
Efeitos do tarifaço ainda pesam nos EUA
Nos Estados Unidos, a tarifa de 50% continua a impactar segmentos estratégicos. As exportações de açúcares despencaram 76,2% em relação a setembro de 2024 e 58% frente a agosto, praticamente zerando as vendas no período. As proteínas animais, segundo item mais relevante da pauta, recuaram 50,6% na comparação anual, ainda que tenham crescido 10,5% sobre agosto. Já as preparações alimentícias diversas caíram 23,2% no mês e 48,5% na base anual.
Duas exceções se destacaram: o suco de laranja, que não foi afetado pela tarifa, teve leve retração mensal (–4,4%), mas cresceu 17,8% em relação a setembro de 2024; e o grupo de óleos e gorduras, que avançou 30,4% no acumulado do ano, mesmo com recuo de 55,7% ante agosto.
“O Brasil precisa recompor os fluxos de comércio com o mercado norte-americano. A diversificação é urgente, mas é igualmente essencial preservar a previsibilidade e competitividade no acesso ao mercado dos EUA”, ressalta Dornellas.
China mantém liderança isolada
A China segue como o principal destino das exportações do setor, com US$ 1,3 bilhão em setembro — resultado praticamente estável em relação a agosto (–0,37%), mas com alta de 25% frente a setembro de 2024. O país respondeu por 21,3% do total exportado, impulsionado por proteínas animais (US$ 1,08 bilhão, +40,2%) e açúcares (US$ 143,6 milhões, –31,3%).
Os países da Liga Árabe também ampliaram participação, com US$ 1,04 bilhão em embarques (+24% sobre agosto), equivalentes a 16,8% do total exportado. O bom desempenho foi liderado por açúcares (US$ 549 milhões), proteínas animais (US$ 443,9 milhões) e farelo de soja (US$ 18,3 milhões).
A União Europeia registrou aumento de 9,3% nas exportações em relação a agosto, somando US$ 715,9 milhões, embora tenha recuado 6,6% na comparação anual. A pauta foi liderada por produtos de soja (US$ 332,2 milhões) e proteína animal (US$ 149,7 milhões).
“Mesmo com oscilações pontuais, o desempenho reforça a resiliência do setor de alimentos brasileiro, que tem se mostrado estratégico para o abastecimento global”, conclui Dornellas.
