Contribuição: FEDERARROZ / CEPEA
O preço do arroz em casca no Rio Grande do Sul atingiu o menor patamar real em 14 anos, segundo levantamento do Cepea/Esalq. A média do Indicador CEPEA/IRGA-RS (58% de grãos inteiros, pagamento à vista) está no nível mais baixo desde setembro de 2011, refletindo um cenário de forte pressão sobre os produtores, agravado por altos custos logísticos, dificuldade de acesso ao crédito rural e valores de venda que não cobrem os custos de produção.
O levantamento do Cepea mostra que, desde o início de outubro, a fiscalização da tabela de fretes da ANTT elevou os custos de transporte, em razão das novas exigências de seguro e da obrigatoriedade de observância aos valores mínimos. O resultado é um aumento no custo final do produto e um desestímulo adicional aos orizicultores, que já enfrentam margens negativas e estudam reduzir a área plantada na safra 2025/26.
“A dificuldade de acesso ao crédito e o desalinhamento entre custos e preços têm desmotivado os produtores e reforçado a tendência de redução de área cultivada no estado”, aponta o Cepea.
Crise no campo e articulação política
Diante desse cenário, o setor arrozeiro gaúcho busca alternativas para enfrentar a crise. A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) participou nesta segunda-feira (13) de uma audiência pública na Assembleia Legislativa, convocada pela Frente Parlamentar em Defesa do Setor do Arroz. O encontro reuniu lideranças da Farsul, Irga, Fetag, Seapi, Sindarroz e representantes do governo estadual.
Na abertura, o deputado Marcus Vinícius, presidente da Frente Parlamentar, classificou o momento como o mais crítico dos últimos cinco anos.
“É uma crise marcada por secas, enchentes, baixa liquidez e agora o impacto do tarifaço dos Estados Unidos. Precisamos ampliar o debate e criar um ambiente político capaz de gerar respostas rápidas”, afirmou.
O presidente da Federarroz, Denis Nunes, destacou que o Rio Grande do Sul responde por 70% da produção nacional de arroz, com cerca de 6 mil produtores, e enfrenta dificuldades crescentes para competir no mercado internacional.
“Mesmo com alta produtividade, o arroz gaúcho perdeu espaço para o produto paraguaio. A área que o Rio Grande do Sul deixa de plantar está sendo ocupada pelo Paraguai”, comparou.
Custos, concorrência e reivindicações
Durante a audiência, Nunes apresentou dados da safra 2025/26, destacando a entrada agressiva da Índia nas exportações globais e os estoques elevados, fatores que ajudam a pressionar os preços internacionais. Ele também citou os entraves logísticos e a escassez de crédito como os principais gargalos para o setor.
As entidades solicitaram equalização do ICMS com outros estados, especialmente o Paraná, e o uso emergencial da Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO) para subsidiar o escoamento da produção e estimular a comercialização interna.
O líder do governo na Assembleia, deputado Frederico Antunes, anunciou que vai articular um encontro do setor com o governador Eduardo Leite e a Casa Civil para discutir as demandas.
“Estamos ganhando corpo para uma conversa direta com o governo. Precisamos de respostas rápidas para reduzir o ICMS e viabilizar um prêmio de escoamento que alivie os estoques e dê fluxo ao arroz gaúcho”, afirmou Denis Nunes.
Perspectivas
Apesar das sinalizações positivas, as lideranças do setor reconhecem o curto prazo legislativo, com o encerramento das atividades da Assembleia previsto para 15 de dezembro. Para 2026, a expectativa é de mercado ainda instável, com crédito limitado e estoques altos, exigindo medidas estruturantes para garantir a sustentabilidade econômica da orizicultura.
Enquanto isso, os produtores enfrentam a safra mais desafiadora da década, com preços em queda, custos em alta e competição crescente — um retrato que coloca o arroz brasileiro em um ponto crítico da sua trajetória no campo e no comércio global.
