O cenário do crédito rural no Brasil atravessa uma das fases mais delicadas das últimas décadas. De acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), o país enfrenta “a maior crise de crédito rural desde o Plano Real”. A avaliação divulgada nesta segunda-feira (20) leva em conta a queda expressiva nos recursos liberados e o avanço da inadimplência.
Entre julho e setembro deste ano, período inicial da safra 2025/2026, os valores destinados ao custeio recuaram 23% em comparação ao ciclo anterior. Para investimentos, a queda foi ainda mais acentuada: 44%. No Rio Grande do Sul, os números ficaram próximos da média nacional — retração de 25% no custeio e 39% em investimentos.
Segundo a entidade, há um abismo entre o volume anunciado pelo governo no Plano Safra e os recursos efetivamente disponibilizados. “O governo divulga valores recordes, mas na prática a execução tem ficado bem abaixo. Esse descompasso ficou mais evidente nos últimos dois anos”, destaca a assessoria econômica da federação.A dificuldade de acesso ao crédito é agravada pela elevação dos índices de inadimplência. Em julho, a taxa geral atingiu 5,14%, o maior patamar já registrado no país. No crédito controlado, o índice ficou em 1,86%, enquanto no crédito livre saltou para 9,35%.
Para a Farsul, esse aumento reflete decisões passadas de política monetária, cujos efeitos costumam aparecer meses depois. “Os reflexos das taxas de juros elevadas ainda não terminaram. O cenário tende a piorar antes de melhorar”, avalia a entidade.
Com o risco crescente, os bancos vêm adotando a alienação fiduciária como principal garantia nas operações de financiamento. “As instituições financeiras estão endurecendo as condições, o que aumenta a vulnerabilidade do produtor que enfrenta problemas climáticos ou financeiros”, explica a área jurídica da federação.
A entidade recomenda cautela ao produtor na assinatura de contratos e sugere buscar alternativas de garantias menos rígidas, como hipotecas, para reduzir o risco de perda patrimonial.
Para enfrentar a crise, a Farsul defende ações coordenadas entre governo e setor produtivo, com foco no fortalecimento do crédito, na ampliação de mecanismos de mitigação de risco e na recuperação de instrumentos como o seguro rural e o Proagro, que vêm sofrendo retração nos últimos anos.
Colaboração: Farsul
