Por trabalhar na televisão e prosear todo dia com uma multidão de gente por esta imensidão do sertão, antes de usar a palavra burrice a gente aqui sempre toma muito cuidado pra não ofender o burro, né, este animal extraordinário, que é um importante parceiro de lida e de vida dos companheiros e companheiras boiadeiros. Mas tem hora que o dicionário parece limitado e insuficiente pra ajudar a contar certas histórias que acontecem por este mundo afora, como tá sendo agora, neste caso da agressão tarifária dos Estados Unidos contra a pecuária brasileira. Conforme já é da sabedência do amigo pecuarista, o descompensado presidente lá do gigante nortista decretou uma taxação absurda e arbitrária em cima da nossa carne bovina, justamente quando eles tão padecendo lá debaixo de uma forte carestia desta mercadoria.
Fazendo uma recordação ligeira, depois de enfrentar uma sequência de problemas, incluindo secas devastadoras, incêndios, enchentes e a ameaça de uma nova praga mortal pro gado, hoje o rebanho estadunidense é o menor desde o já muito distante ano de 1951. Aí, com tudo dando errado, o resultado foi que o preço da carne pro consumidor norte-americano tá em alturas estratosféricas, e o povo lá tá ficando muito bravo. Pois a novidade foi que, no fechamento da semana passada, o próprio presidente que tudo sabe e de tudo entende foi obrigado a reconhecer isso publicamente. Traduzindo literalmente, o que ele disse foi o seguinte, vai ouvindo: estamos trabalhando na carne bovina e acho que temos um acordo sobre ela. Aí, como ele não deu mais detalhes, os especialistas do mercado e os colegas jornalistas daqui e de lá tão pensando em duas possibilidades.
A primeira é que ele pode tá falando de um plano de incentivo pra atividade que já tava sendo preparado pelo USDA, o Departamento de Agricultura, que corresponde ao ministério lá no governo deles, né. Mas logicamente que ninguém deixou de reparar também que um dia antes desta entrevista, tinha sido acontecido um encontro entre os ministros das relações exteriores do Brasil e dos Estados Unidos, e um dos assuntos principais da conversa foi o pedido brasileiro de suspensão das tarifas extraordinárias contra os produtos da nossa agropecuária, incluindo a carne bovina. Logicamente que não dá pra saber exatamente o que o indigitado dirigente tem debaixo do cabelo alaranjado, né, mas se ele for minimamente inteligente, a decisão vai ser de mandar reduzir ou cancelar totalmente a cobrança injusta, inaceitável e burra em cima dos nossos produtos de exportação. Tomara, né.
