Mohamed Mahmoud Hussein é pescador nas águas da Faixa de Gaza desde jovem, quando aprendeu o ofício com seu pai e avô.
“Meu trabalho é o mar. Passei a vida inteira no mar. Vivo e fui criado aqui”, conta. Mas o atual conflito impactou sua vida de forma catastrófica. “O mar era proveitoso antes da guerra, mas agora tudo é medo. Estamos com o coração apertado.”
Apontando para um barco de pesca que balança próximo à costa, Mohamed destaca o cerne do problema e explica que, para ele e seus colegas, o acesso ao mar está drasticamente limitado.
“Posso ir até ali. Tenho medo de ir além. Se fizermos isso, atiram em nós.” Ele relata que muitos amigos pescadores morreram ou ficaram feridos no conflito.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) está pronta para reiniciar projetos, reparar barcos danificados, repor equipamentos e liberar fundos emergenciais assim que o acesso ao mar for restabelecido, um cessar-fogo sustentável seja alcançado e a entrada de insumos pesqueiros essenciais seja permitida na Faixa de Gaza, afirma Ciro Fiorillo, Chefe do Escritório da FAO para a Cisjordânia e Faixa de Gaza.
“Isso ajudará os pescadores de Gaza a retomar suas atividades, revitalizar seus meios de subsistência, contribuir para a recuperação econômica e restaurar a dignidade do povo de Gaza”, destaca Fiorillo.
Há anos, a FAO apoia mais de 4.000 pescadores em Gaza, promovendo segurança, qualidade e sustentabilidade alimentar. As principais iniciativas incluem projetos de criação de peixes em gaiolas marítimas, monitoramento da população de peixes, apoio à aquicultura continental, capacitação de pescadores e fornecimento de recursos essenciais para a cadeia do frio, como painéis solares para refrigeração e unidades de dessalinização.
A captura diária durante a temporada de pesca costumava variar entre 15 e 20 toneladas, conta Ahmed El-Ejla, coordenador de projetos da Sociedade Cooperativa de Pesca Al-Tawfiq, que já colaborou com a FAO em diversos projetos. “Hoje, todos os pescadores capturam uma quantidade de quilos de apenas um dígito (cinco, três ou dois), além de saírem para o mar sem saber se voltarão para casa.”
Os números refletem o impacto devastador do conflito: entre outubro de 2023 e abril de 2024, a média diária de capturas caiu para apenas 7,3% dos níveis de 2022, resultando em uma perda de produção de 17,5 milhões de dólares.
“Não sobraram barcos ou botes. Só restam pequenas embarcações que permitem pescar o mínimo para alimentar nossos filhos e famílias. Tínhamos o projeto de gaiolas marítimas da FAO, pescávamos muito, mas tudo isso se perdeu”, relata Khaled Radwan Ahmad Al-Laham, pescador de 35 anos de Khan Younis.
Para complicar ainda mais a situação, a destruição das duas principais fazendas de aquicultura de Gaza, assim como das instalações de piscicultura, eliminou a capacidade de produzir alimentos alternativos. Ao norte de Wadi Gaza, que separa as zonas norte e sul da Faixa, o porto de Gaza também sofreu grandes danos.
Tudo isso agrava a já crítica crise de segurança alimentar. O peixe, antes uma fonte vital de proteína e nutrientes para os habitantes de Gaza, praticamente desapareceu. Agora, quando disponível, o preço aumentou até 20 vezes em relação a 2023.
“Estamos com dificuldades para nos alimentar e nutrir; agora tudo é comida enlatada”, relata Husam Abdullah Al-Abssi, pescador da Cidade de Gaza.
Com o apoio da FAO, já estão sendo elaborados planos para revitalizar o setor pesqueiro após o cessar-fogo, permitindo que os pescadores contribuam rapidamente para a segurança alimentar em Gaza, afirma El-Ejla. “No setor pesqueiro podemos prosperar rapidamente. A agricultura leva tempo, mas se hoje fornecermos os recursos necessários, amanhã os pescadores já poderão pescar e fortalecer a cesta de alimentos.”
“Apoiar os pescadores de Gaza a retomar suas atividades não é apenas recuperar meios de vida, mas também garantir a segurança alimentar, preservar modos de vida e fortalecer a resiliência em uma das comunidades mais vulneráveis da Faixa de Gaza”, completa Azzam Ayasa, Chefe de Programa da FAO para a Cisjordânia e Faixa de Gaza.
Com determinação e apoio da FAO, quando as condições permitirem, os pescadores de Gaza poderão enfrentar a difícil, porém essencial, tarefa de reconstruir seus meios de subsistência e fornecer nutrição essencial para suas comunidades.
Fonte: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)